Fios, lâminas, serras, ioiôs, pesos, varetas, grampos e outros objetos
comuns e materiais de ferro velho compõem as instalações de Rogério Severo. Sob a forma de
redes ou circuitos, elas criam desenhos no ar em resposta ao espaço onde são
construídas. É ele que orienta a distribuição das
peças, ainda que as composições pareçam se manter em aberto, como se pudessem
ter seus vetores e linhas de força reconfigurados a qualquer instante.
A sugestão de movimento é dada pelo jogo entre compressão e distensão,
tensão e equilíbrio. E também pelo modo como o artista revela, no próprio
trabalho, as operações que o constituem: as amarras, flexões, pesos,
contrapesos, trações, fixações, etc. «O que está à mostra não é um projeto acabado,
e, sim, possibilidades, fragmentos, intenções», explica Severo.
O improviso, a capacidade de adaptação e a atenção ao que requerem
espaço e materiais são aspectos centrais no processo criativo do artista, como
também é o caso na instalação desenvolvida para a Casa M. Aqui, o lugar a que o
trabalho responde é definido não tanto pelas paredes ao redor, mas pelo
retângulo de vidro que desconcerta a fachada e revela o interior da morada a
quem transita pela Fernando Machado. A mesma vitrine que no início do século
passado seduzia os passantes com uma variedade de chapéus é agora usada para
despertar outro tipo de interesse, desejo, curiosidade.
Apesar da simplicidade de procedimentos e materiais, as obras de Rogério
Severo não se filiam a uma «estética da gambiarra». Falam, antes, de uma
espécie de inteligência dos objetos. Do modo como eles conformam nossos espaços
e da possibilidade que guardam de se reinventarem. Ou de reinventarem os
lugares que nos conformam.
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Texto publicado no periódico da Casa M / 8a Bienal do Mercosul de junho-julho de 2011, dedicado à segunda Vitrine do projeto, de autoria
de Rogerio Severo.
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