Fernando Limberger | 8a Bienal do Mercosul



Os trabalhos de Fernando Limberger apresentam-se como paisagens. Articulam vegetação, pedras, formas geométricas e planos de cor em jardins que combinam exuberância e simplicidade, natureza, artifício e racionalidade. Suas composições reconfiguram os ambientes onde se inscrevem, alterando o modo como a natureza os integra ou atravessa, seja pelo uso da cor e efeitos de luz provocados, pela poda e limpeza das espécies ou pela subtração/inserção de novos elementos. A transformação da natureza por meio da ação humana e o modo como ela também age sobre essa intervenção está presente em boa parte de suas criações. Exemplo disso são as sementeiras, mudas e canteiros de cor do projeto Fértil (2003), que estão na origem dos jardins coloridos, recobertos por areias tingidas de rosa e amarelo – inócuas ao meio ambiente. Assim como eles, os arranjos que compõem as instalações Células Verdes (2008) e Complementares (2010) ostentam uma natureza domesticada, ainda que vigorosa, problematizando as contradições e ambivalências dos discursos ambientalistas que tentam dar conta da complexa relação entre o homem e a natureza.

Questões similares estão colocadas no trabalho desenvolvido por Limberger para o pátio da Casa M, uma estreita faixa de terra espremida entre dois prédios residenciais, com diferentes níveis e um depósito aos fundos. Vasos desencontrados e plantas daninhas foram retirados do local, e as áreas de chão batido receberam uma cobertura de areia em tons de vermelho, roxo e rosa. Em meio à vibrante topografia, dois elementos pontuam a paisagem: o abacateiro de copa farta e iluminada e o cubo revestido de madeira queimada (que agora encobre o depósito). Vida e morte, luz e sombra, natureza e racionalidade são alguns dos binômios evocados pela sedutora e ao mesmo tempo desajustada dupla. Um drama barroco parece se desenhar na melancolia e torpor dos personagens, quando percebemos o tom burlesco da cena, que não nos impede de fantasiar uma história de amor – enquanto tomamos sol, jogamos conversa fora, compartilhamos um chimarrão ou lemos um livro nesse jardim feito obra.

* Texto publicado no catálogo da 8a Bienal do Mercosul, realizada em Porto Alegre, em 2011.

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