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Vitor Cesar | 8a Bienal do Mercosul
As noções de público e esfera pública são caras ao trabalho de Vitor Cesar. Muitas vezes apresentados em espaços não artísticos, como as ruas de São Paulo ou Fortaleza, seus projetos quase sempre envolvem uma estratégia de comunicação com o outro e uma problematização do contexto em que se inserem – ou dos discursos que alimentam o imaginário sobre determinado lugar. Cartazes, painéis e letreiros são alguns dos dispositivos utilizados pelo artista em propostas que se confundem com práticas e elementos da vida comum. É o caso da ação em que o artista disponibilizou um serviço de xerox que realizava cópias gratuitas de materiais com a palavra «público», do cartaz distribuído por Fortaleza com a inscrição «permitido», seguindo o mesmo padrão visual das placas de trânsito, ou ainda da inscrição «artista é público» disposta em letras de alumínio no saguão de um centro cultural. Quem são os públicos da arte? Quais as relações entre artista e público? É possível constituir uma esfera pública por meio da arte? Discussões como essas permeiam os trabalhos de Vitor Cesar e parecem ganhar força na medida em que o contato com suas obras se dá sem a intermediação institucional da arte, isto é, sem que se saiba, necessariamente, que se tratam de projetos artísticos.
É o que acontece no projeto criado para a Casa M, em que o artista desenvolve uma campainha para o local. Um dispositivo sonoro que conecta o ambiente externo ao interno e anuncia a chegada de novos visitantes. Ao ser acionada, ela dispara diferentes toques ao longo da morada, dando as boas vindas a quem chega e evocando a diversidade de públicos do lugar. A variedade de usos e atividades também é sugerida pela campainha, que ressoa de um modo distinto a cada espaço, reafirmando suas particularidades. Entre a sinfonia e a dissonância, o trabalho celebra a possibilidade do encontro, sem nivelar diferenças nem eliminar ruídos, sem apaziguar divergências nem desconsiderar especificidades. É a ideia de convivência que está em jogo – ou ainda, de constituição de uma esfera pública. Será possível produzir uma nos dias de hoje? Engajar diferentes públicos em um debate crítico e desenvolver interpretações compartilhadas da realidade? Mais uma vez, o trabalho de Vitor Cesar confunde-se com um elemento da vida comum, potencializando a estranheza, o encantamento e a reflexão que produz.
* Texto publicado no catálogo da 8a Bienal do Mercosul, realizada em Porto Alegre, em 2011.
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