Sinais de fumaça

A comunicação por sinais de fumaça baseia-se na decodificação de signos visuais. Se por um lado ela possibilita a difusão de mensagens a longas distâncias, por outro a sua leitura depende de um olhar atento e do reconhecimento dos códigos utilizados, bem como de condições climáticas favoráveis. A exposição Sinais de fumaça toma emprestado esse termo para fazer referência a estratégias de disseminação da arte que vão além da exibição de obras em museus e galerias, valendo-se de suportes e mídias que propiciam uma propagação alastrada do pensamento e prática artísticos, capaz de atingir destinatários distantes e incalculáveis. Por sua existência múltipla e descentralizada, as publicações de artista (livros, jornais, revistas, panfletos, cartazes, postais, folhetos e outros impressos) e as edições ilimitadas (CDs, DVDs, LPs, camisetas, adesivos, cartões telefônicos, tecido ou papel estampado, etc) são meios privilegiados para essa forma de veiculação.

A exibição em um espaço museológico de trabalhos que questionam a circulação restrita a esse contexto não é um movimento simples (nem um dilema novo). Sinais de fumaça parte desse problema para realizar um recorte da coleção de publicações e edições de artista FMRA, mantida pelo Centre National de l'Estampe et de l'Art Imprimé - CNEAI (Chatou, França), incluindo também peças pertencentes à Coleção de Arte da Cidade, ao Arquivo Multimeios e à Biblioteca Volpi, sediados no Centro Cultural São Paulo. Nesse sentido, estratégias de circulação e disseminação características dessa produção artística foram aqui tomadas como assuntos ou campos de interesse que definem os quatro pontos de partida da exposição: deslocamento, movimento, propagação - troca, intercâmbio, correspondência - multiplicação, repetição, reprodução - relação texto-imagem, decodificação, tradução.

As demandas de conservação de peças pertencentes a coleções públicas exigem uma exibição protegida, distante do tipo de aproximação que a natureza desses trabalhos pediria. Estáticas por detrás dos vidros, as obras se oferecem recortadas e associadas umas às outras como em uma colagem, criando um discurso a partir da soma de detalhes. Em contraposição, algumas publicações são disponibilizadas não apenas para manuseio, mas também para cópia, o que reafirma o seu caráter reprodutível e a possibilidade desses trabalhos circularem por outros espaços e situações.

Sinais de fumaça inclui, por fim, a participação de sete artistas que desenvolveram obras em diálogo com o foco da mostra. Stéphane Magnin e a dupla A constructed world criaram espaços de leitura, escuta e consulta para esses materiais, propondo situações e recortes que provocam diferentes relações com as obras expostas. Já Ana Luiza Dias Batista, Cadu, Carlos Issa e Rodrigo Matheus foram convidados a pensar em trabalhos que tomam a linguagem impressa, a idéia de reprodutibilidade e a possibilidade de circulação como estratégias de ampliação da sua presença, do seu potencial de comunicação ou do seu sentido. Sinais de fumaça integra a programação oficial do Ano da França no Brasil.

* Texto escrito em parceria com Carla Zaccagnini para a exposição Sinais de fumaça, de curadoria de Carla Zaccagnini, Fernanda Albuquerque e Sylvie Boulanger. A mostra acontece no Centro Cultural São Paulo de 29 de agosto a 8 de novembro de 2009.

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Caderno-parque (detalhe), 2009. Trabalho de Ana Luiza Dias Batista em exposição na Sinais de fumaça.

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