Donna Conlon e Jonathan Harker | 8a Bienal do Mercosul



Os trabalhos da dupla Donna Conlon e Jonathan Harker, que atuam em colaboração desde 2006, combinam interesses e procedimentos próprios de suas práticas individuais. Temas como a voracidade do consumo e do descarte e a conflituosa relação do homem com o seu meio, recorrentes na obra de Conlon, ganham um tratamento absurdo, irônico e por vezes sarcástico. Ao mesmo tempo, a proximidade de Harker com o universo da música e do cinema empresta outro uso a objetos encontrados na rua, como latas, embalagens, sacolas plásticas e outros refugos caros à poética de Conlon. É o que se vê, por exemplo, no vídeo Estación Seca (2006), em que uma estranha sinfonia é obtida por meio de uma chuva de garrafas sobre uma montanha do mesmo material. A paisagem sintética revelada nas imagens também é sugerida em outros projetos da dupla, como na série (Video) Juegos (2008-2009), que tem como pano de fundo a explosão imobiliária da capital panamenha e a profunda transformação vivida pelo país na última década. Nos vídeos, peças encontradas em ruínas de casas demolidas são usadas como fichas e tabuleiros de jogos imaginários, evocando aspectos como as disputas envolvidas na construção e desconstrução de um país e na criação de símbolos e identidades nacionais.

Os nomes das cervejas panamenhas curiosamente refletem o imaginário em torno do país, a começar pela Panamá, uma das poucas no mundo a compartilhar seu nome com a nação onde é produzida. Outro exemplo é a cerveja Soberana, lançada em 1964, ano em que a oposição à presença norteamericana tomou conta das ruas da capital sob o grito de ordem «soberania total». Há ainda a cerveja Balboa, que leva o nome do conquistador espanhol Vasco Núñez de Balboa. Homem de péssima reputação, ele teria «descoberto» o Oceano Pacífico, transformando-se em uma espécie de herói fundador do Panamá e emprestando seu nome à moeda nacional – que, para efeitos práticos, é o dolar americano. Por fim, a cerveja Atlas evoca a condição geográfica do país e a centralidade da passagem interoceânica, o Canal do Panamá, em sua economia e história. Em Drinking Song (2011), Donna Conlon e Jonathan Harker utilizam latas e garrafas de Soberana, Balboa, Atlas e Panamá para tocar o hino nacional norteamericano, cuja música encontra origem em uma «drinking song» ou «canção de bebedeira». Irônica e muito bem humorada, a peça evoca a complexa relação entre os Estados Unidos e o Panamá e aponta para arbitrariedade e o delírio por trás da construção de símbolos nacionais.

* Texto publicado no catálogo da 8a Bienal do Mercosul, realizada em Porto Alegre, em 2011.
** Drinking Song, 2011 (still).

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