Jonathan Harker | 8a Bienal do Mercosul



As imagens que temos de nosso país e de nossa história – ou as imagens que fazemos de nós mesmos – são sempre construções. Espécies de narrativas que, como lembra Harker, «tentam reconciliar ou ignorar incongruências, imperfeições e ambiguidades em histórias com um início, um meio e um fim, nas quais tudo é claro e todas as peças se encaixam». A maneira como essas narrativas são produzidas e o modo como aproximam ficção e identidade alimentam a obra do artista, que se vale do humor, do sarcasmo e da ironia para apontar fissuras, dissonâncias e fragilidades nas representações que constituem o nosso imaginário. É o caso da série de postais criados para o Panamá (2001-2011), em que Harker se transveste de diferentes personagens, figurando em meio às «riquezas» e «apelos turísticos» locais. A presença do artista e um certo elemento performático são recorrentes em seus trabalhos, sejam eles formalizados em vídeo ou fotografia. É o caso de outras duas obras em que a imagem do Panamá também é evocada: Tomem distância (2002), em que o artista coloca uma mini câmera na boca e canta o hino nacional até vomitar, e Arednab a la Otnemaruj (2004), outra tomada em que a boca do artista aparece em primeiro plano, dessa vez recitando o juramento à bandeira ao contrário.

Manágua, Nicarágua é um foxtrot composto pelos americanos Irving Fields e Albert Gamse. Lançado em 1946, durante a idade de ouro da capital nicaraguense, obteve enorme sucesso à época e até hoje alimenta o imaginário nacional. Convidado a participar de uma exposição sobre a cidade de Manágua, Jonathan Harker – em colaboração com os músicos Iñaki Iriberri e Rodrigo Sánchez – apropriou-se da canção para criar um novo hit. Introduziu pequenas mudanças na letra, como a mudança do tempo verbal, transformou o arranjo e produziu um videoclipe, animando a música por meio de um bem humorado jogo de palavras e imagens. Em inglês e espanhol, os versos de Manawa Nicarawa (2010) celebram um idealizado paraíso tropical – de clima quente, natureza farta, mulheres fáceis, pouco trabalho e muita festa «for a few pesos down» ou «a preço de banana». A imagem caricata, repleta de clichês, reflete o olhar estrangeiro sobre o país. Ao mesmo tempo, evoca a exploração e as desigualdades presentes na conturbada relação entre os Estados Unidos e a Nicarágua, que por décadas sofreu intervenções diretas do governo norteamericano.

* Texto publicado no catálogo da 8a Bienal do Mercosul, realizada em Porto Alegre, em 2011.
** Manágua, Nicarágua, 2010 (still).

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