Caleidoscópicas e multifacetadas, como as imagens que fazemos do mundo depois de algumas taças de vinho – ou ao percebemos a possibilidade de observá-lo de múltiplos pontos de vista a um só tempo –, as circunstâncias de Fabíola Salles, que aqui tomam forma de pinturas, nos falam do modo como nos relacionamos com o que está à nossa volta. "Na superfície, a arquitetura desenha o espaço, cria referências e pontos de apoio para o olho", escreve a artista. É nela que nosso olhar bate, são suas linhas que delimitam o que observamos na cidade, na casa, no quarto. Traços que oferecem pontos de apoio não só para o olho, mas para o corpo. Nos arranjos da artista, no entanto, espaços de cor e linha desenham uma arquitetura metafísica, improvável, onírica. Rosa e vermelha, verde e azul. Uma arquitetura onde apoio já não é uma palavra que faça muito sentido. Nela, espaços de cor e linha constroem circunstâncias – condições de tempo e lugar de impossibilidade real, mas de possibilidade perceptiva, imaginada. Como aquela que determina o modo como observamos, do centro, do nosso centro, o contexto que dele se expande.
* Texto originalmente produzido para a exposição Circunstância: centro, realizada entre outubro e novembro de 2008, no Bar do Museu, em São Paulo.
** Sem título, 2007.
Nenhum comentário:
Postar um comentário