Horizonte de eventos


Na Física, horizonte de eventos é o nome dado à superfície esférica que limita ou anuncia o buraco negro. Trata-se de uma região exata e ao mesmo tempo imprecisa (nem buraco negro, nem universo), ainda afetada pelas propriedades desse campo gravitacional de onde nada escapa, já que até a luz absorve. Na Fundação Ecarta, a expressão dá nome ao trabalho de Wagner Malta Tavares, instalado na entrada do espaço expositivo, sinalizando um lugar.

Imagens evasivas e atmosféricas, daquelas que embaralham e inebriam o olhar (talvez por indagarem os pequenos e grandes infinitos, como os que busca esquadrinhar o pesquisador de Michel Zózimo), dão o tom da mostra – aqui e ali dissolvido pela tensão sugerida nos trabalhos de Maíra Dietrich, Túlio Pinto e Wagner Malta Tavares. Tal qual paisagem vasta, que mesmo de olhos fechados persiste na retina, as obras em exposição não se revelam por inteiro à primeira investida, nem se concluem no olhar. Como as imagens sobrepostas de Letícia Ramos e Força Tarefa (Cristiano Lenhardt e Fernanda Gassen), ativam miradas.

Há algo no espaço que permanece em ação, como se atravessássemos um campo gravitacional (ou o horizonte de eventos da mostra) e ali permanecêssemos, em um meio onde eventos podem acontecer ou a partir do qual se intuem/verificam eventos. Mais ou menos como quando contemplamos o horizonte e imaginamos que por detrás daquele mar (de que nos falam Letícia Ramos e Gilberto Mariotti), existe mais mar, mais céu, um continente inteiro ou a imensidão de um buraco negro.

* Texto de apresentação da exposição Horizonte de eventos, em cartaz na Fundação Ecarta, em Porto Alegre, entre 2 de outubro e 14 de novembro de 2010.
** Mar, de Letícia Ramos, 2008.

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