Lucía Madriz | 8a Bienal do Mercosul



O modo como as relações de poder estruturam a sociedade é um tema central na obra de Lucía Madriz. As construções identitárias em torno da mulher pautaram seus primeiros trabalhos, que aos poucos passaram a enfocar outros interesses, como “a propriedade intelectual, a privatização de recursos naturais e bens de domínio público, a segurança e soberania alimentar e a conversão da natureza em mercadoria”, nas palavras da crítica Tamara Díaz. Um exemplo são as instalações realizadas com grãos de milho, arroz e feijão – trabalhos que questionam o uso de sementes geneticamente modificadas pelos efeitos trazidos à saúde e ao meio ambiente, pelo impacto junto às populações rurais e pela dependência econômica gerada pelo modelo. A preocupação ambiental marca a produção recente de Lucía, para quem a “arte é um meio de apresentar questões e estabelecer um diálogo com o público”. O entendimento está na base de Mi Experimento Verde (2010), um guia prático para adquirir hábitos sustentáveis e tornar-se um cidadão mais responsável com o planeta. A publicação é acompanhada de um blog onde os interessados podem compartilhar seus aprendizados.

Prelúdio (2011) inspira-se em imagens que ilustram a conquista das Américas ou Novo Mundo, a exemplo das gravuras de Johannes Stradanus (1523-1605), Theodore de Bry (1528-1598) e Theodor Galle (1571-1633). Trata-se de representações que funcionam como documentos históricos, recriando fatos, paisagens, vestimentas, objetos e costumes. Realizada com feijões e pedrinhas em diferentes tons, a instalação aponta para as noções de história, território e identidade como narração, interpretação ou construção cultural, isto é, modos de compreender e de se aproximar da realidade. Tais processos também estão presentes, vale lembrar, na maneira como concebemos e nos relacionamos com os distintos países e no modo como eles são representados simbolicamente por uma bandeira, uma moeda, um hino, um traje típico ou uma história oficial.

* Texto publicado no catálogo da 8a Bienal do Mercosul, realizada em Porto Alegre, em 2011.
** Prelúdio, 2011 (detalhe).

Nenhum comentário: