Anna Bella Geiger | 8a Bienal do Mercosul



Marcada pela diversidade de linguagens, a obra de Anna Bella Geiger transita pela pintura, desenho, gravura, fotografia, vídeo, xerox e publicações. A pluralidade de suportes, interesses, procedimentos e materiais talvez seja uma das principais características de seu trabalho, que começou a se desenvolver nos anos 1950 sob o signo do abstracionismo informal, passando à chamada «fase visceral» na década seguinte, com formas aludindo a órgãos humanos em representações fragmentadas do corpo. O questionamento sobre a natureza e o papel da arte marcou sua produção nos anos 1970, de forte caráter experimental. O lugar do Brasil e da América Latina no mundo, a formação de um circuito de arte no país e a crítica a uma ideia de brasilidade ou identidade nacional são alguns dos temas que alimentam a obra da artista no período e a levam a utilizar a cartografia como recurso para problematizar a pretensa correspondência entre fronteiras geográficas e territórios culturais. Entre a representação e a camuflagem, seus mapas apresentam-se como esboços ou esquemas de um planeta estruturado não só por meridianos e paralelos, mas por complexas relações de poder.

Integram a mostra Geopoéticas os livros de artista O novo atlas 1 (1977) e A cor na arte (1976) e a série de mapas Variáveis (1977-2010). Como em outros trabalhos da década, o uso de técnicas variadas, como xerox, colagem, serigrafia e costura, e a presença marcante da palavra são aspectos centrais, apontando tanto para os discursos e leituras que alimentam as representações territoriais quanto para a constante reordenação simbólica que as caracteriza. Como se, para além das informações e interpretações que reconfiguram o lugar ocupado por cada país ou continente em um mapa de relações e disputas de poder, a própria cartografia ou bandeira nacional pudesse ser revista – alterada em suas cores e formas, atendendo a diferentes pontos de vista e perspectivas de análise.

* Texto publicado no catálogo da 8a Bienal do Mercosul, realizada em Porto Alegre, em 2011.
** Variáveis, 1977-2010.

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